Liberdade e Isolamento

     Olá, meus caros! Como estão? Espero que tudo esteja fluindo da forma mais positiva na sua vida. Vim novamente, tentar transpor em linhas e letras, um pouco do que estou passando e sentindo. Faz um BOM tempo desde a última vez que me propus a sentar e escrever algo para o #GarotosSerãoSempreOtários. Parece que, neste hiato, tanta coisa mudou ao meu redor na minha vida, assim como algumas não mudaram. Por exemplo, estou finalmente trabalhando como professor de História na rede pública de ensino (isso foi uma das melhores mudanças neste período), estou morando sozinho e ainda assim, lido todos os dias com o meu próprio vazio.
     Sempre quando penso na questão das minhas contradições, meus conflitos emocionais e psicológicos, lembro de uma frase da Lady Gaga na canção Marry The Night, "eu sou um soldado contra o meu próprio vazio". Morar sozinho tem me perdido, cada vez mais, passar horas repensando meus ideais e meus dilemas. Nunca foi fácil olhar para mim mesmo, me despir do ego de leonino e acolher minhas sombras. Entretanto, cada vez mais parece quanto mais tento fugir desses pensamentos, mais fortes e constantes eles ficam.  É como um caleidoscópio de vozes que ficam remoendo e abrindo feridas que nem mesmo eu sabia que eu carregava. O vazio sempre tenta me tragar, mas da mesma forma, tento me lembrar que é a partir do vazio, do nada, que brota a existência.
     Ser professor permite olhar, se você estiver disposto, a vida por um prisma muito mais intenso e também delicado. As histórias de vida, os olhares dos alunos, as conversas com a equipe pedagógica, fazem com que ao invés de observar o outro, nós olhemos a partir destes moldes para nós mesmos. O que eu falo, o que eu penso, o que eu represento, tem uma forte influência no cotidiano não só dos estudantes, mas da própria cultura escolar. Acredito que a Educação, no contexto das sociedades ocidentais, desempenha um papel não apenas na formação do cidadão que viverá no Estado democrático e de direito, mas também de transformação na realidade emocional e psicológica destes sujeitos. Não é apenas por amor, mas também por acreditar que precisamos construir uma sociedade que seja forte para encarar suas próprias contradições. Como eu posso lidar com as contradições da minha sociedade, se tenho medo de olhar para as minhas próprias?
     Morei em repúblicas durante toda minha graduação, mas agora estou prestes a morar sozinho, pronto para lidar com meu maior desafio: eu mesmo. Esse passo não é só as maravilhas que pressupomos quando somos mais jovens, mas também é cheio de armadilhas criadas por nossa própria mente, nosso sabotador interno. Já diria Fernando Pessoa, se te é impossível viver só, nascestes escravo. É preciso abraçar a possibilidade da liberdade da mesma forma com que se abraça o silêncio e a solidão. E é este silêncio que me faz voltar ao meu vazio interior, desta vez eu não olho apenas como um soldado que quer fechar este buraco, olho como o professor que quer aprender com sua própria dor. É preciso se libertar dos moldes do ego e dos apegos, porque afinal de contas, nós viemos a esta existência sozinhos e assim dela também saímos. É necessário estar pronto para entender que é na solidão que se compreende o que importante são as pequenas palavras e ações, são estas que nos recordam que somos amados, que fazemos falta na vida dos outros, assim como estes "criam" saudade em nossa vida. É pela solidão que o amor ganha sua verdadeira dimensão.
     Ser professor me permite entender que não apenas farei parte de um processo importante na vida de muitos jovens, mas também me ensina que não só de ciência e teoria que se faz uma escola. É preciso também ensinar a amar, amar a si mesmo, nas suas mais diversas contradições. A vida não se divide apenas entre amor e ódio, bem e mal. Há muitos outros elementos que complexificam a realidade e é necessário sim olhar para eles com o coração aberto, aberto a ponto de escancarar o vazio e os pensamentos sabotadores para que deles surjam a vontade de se apaixonar pela vida, pelo futuro e também pelo seu próprio passado. São as nossas cicatrizes que fazem de nós quem somos, são nossos erros que fazem de nossa existência algo que valha apena viver para se aprimorar. É preciso, muitas vezes, ensinar primeiro o outro para que finalmente nós mesmos entendermos nossa sabedoria de vida. Sem vazios, não existe existência.

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