Conversa de Boteco com o Lorde das Trevas

PRIMEIRAMENTE FORA TEMER!            


           Apesar de crescer lendo Harry Potter e acreditar que o bem sempre gongaria o mal, dos potagonistas, meu preferido era Lorde Voldemort. A personagem, criada por J.K. Rowling, é tão complexa quanto cativante. Acredito, desde que nos conhecemos nas páginas da Pedra Filosofal, que eu e o Lorde das Trevas temos algumas coisas em comum.
          Estudei no Dom Bosco, escola católica que é muito grande fisicamente. Tínhamos duas quadras, uma delas coberta, um pequeno bosque com pomar e horta. Um parquinho completo para as crianças do Infantil também faz parte do terreno da escola. Cresci projetando Hogwarts naqueles corredores. Hogwarts era um internato, no Dom Bosco o Ensino Fundamental II começa as 7h da manhã e termina as 17h da tarde. Ensino integral! 
          Então entendia a ligação que Voldemort sentia com sua escola. Estudei 16 anos nessa escola, a conheço de cima a baixo, como a palma da minha mão. Como eu sussurrei às torneiras esperando que ladrilhos e ralos mexessem! "De tão grande ela deve ter alguma passagem secreta", eu repetia a mim mesmo como um mantra. Era filho de funcionária, minha mãe era servente, e tinha mais parentes que trabalhavam lá. Minha família toda tem ligação com o Dom Bosco, desde sua fundação. Conhecia os caminhos e corredores, corria seguro pelos bastidores da escola. 
            A mãe de Voldemort decendia diretamente de um dos fundadores de Hogwarts. Tom Riddle cresceu sozinho em um orfato. Nas palavras de Dumbledore, Riddle nunca cosneguiu entender o que era amor. Com certeza eu tentava entender o vínculo louco e psicótico que ele criou com a escola de magia e bruxaria. No fundo, Hogwarts era a máxima projeção de família que Voldemort teve. 
          Ele esta na minha lista "Personagens que eu gostaria de ter uma conversa de boteco". Imaginei o Lorde das Trevas sentado em minha frente, em uma mesa de plástico de alguma marca de cerveja, vermelha como as cadeiras. Imagino também que Nagine, sua cobra de estimação, estaria no chão, cercando a mesa gasta. Provavelmente faria de mim o torremo da noite, mas era o preço da conversa! A gente ta aqui é pra isso, né non? 
          Um dos temas para a conversa no boteco com alguns dos personagens dessa lista, seria sobre eternidade. Alguém que separou pedaços da própria alma para poder estender a vida, sem dúvida estaria no topo da lista. Consigo imaginar meus olhos vidrados, correndo sobre suas vestes longas e negras, supondo como e onde poderiam ser os cortes das Horcruxes.
          Outra coisa que eu sempre quis entender em Voldemort, foi sua relação com a vida. Para mim é dificil acreditar que ele só não queria morrer. Ninguém quer morrer e se você é bruxo, a primeira coisa que se pensa é como evitar, Acredito que ele queria mais viver do que não morrer. Ele tinha um plano especifico para a comunidade bruxa, exercendo seu poder autoritário sobre a comunidade bruxa, sim. Não que ele seria um bom governante, destes estamos saturados de exemplos! (Fora Temer!) Mas nos lembra de que até o Lord Voldermort se perguntava o que era a vida. Penso que ele queria mais em não deixar essa experiência, a vida, acabar. 
          Penso que enquanto bebesse do copo americano do buteco, diria ao Lorde das Trevas que entendia a relação com Hogwarts, mas o close foi erradíssimo! Quem não gostaria das peças dos fundadores bruxos? Quem não gostaria de tê-las? Mas enfim... Hogwarts sempre estaria la para ele, tendo o sangue dos fundadores ou não. O Dom Bosco ainda está lá, fruto de um projeto de alfabetização crianças pobres de Poços de Caldas.
         O olharia nos olhos, ofídios e vermelhos, e diria que como ele eu queria voltar como professor para minha escola. Claro, não para procurar informação sobre Horcruxes e transformar a aula de Defesa Contra As Artes das Trevas em um verdadeiro inferno. Já eu, serei professor de História. Ser professor nos nossos dias tornou-se ser cowboy fora da lei. Mas, novamente, estamos aqui é pra isso, né non?
          Na hora que pedisse a saideira, gostaria de ouvir qual a profundidade que ele lia entendia o substantivo vida. Espetáculo que pode fechar suas cortinas a qualquer momento. A diferença entre não querer morrer e querer viver mais vem de entender que a beleza da experiência da vida está justamente em sua finitude. Acredito que Tom Riddle viu isso e entendeu o quão é belo o fim da vida, mas teve medo. Medo porque para entender a vida é preciso de amor.
           Eu não sei vamos para algum lugar depois aqui, sinceramente não me preocupo. Se tiver ou não, vou deixar para me preocupar quando chegar. Até lá eu vou ser cor, vou ser professor! A História nos mostra que a vida é acima de tudo possibilidades e de pessoas. História é ciência do estudo da ação do homem no tempo e no espaço. Ações que são furtos de paixões, medos, inseguranças, frustrações, sonhos, horas, lugares. Viver é estar aberto a se aprofundar na beleza da profundidade do outro, na finitude das coisas a sua volta; é amar. Ela, a vida, é bonita porque acaba, porque as pessoas que amamos vão embora. Afinal, quem quer o coração partido para sempre?

Comentários

  1. Como sempre fico pasma,com a sua criatividade e imaginação.
    Como você consegue por seu amor pela historia nos momentos mais simples e marcantes de sua vida,fico feliz e orgulhosa de conhecer uma pessoa tao maravilhosa,criativa e dedicada como você...continue sempre assim, essa criança interior que consegue cativar a todos com seus textos,que nos mostra seus sentimentos e ainda nos lembra dos nossos,das alegrias que a imaginação pode nos trazer.

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