O poder da barba

               Sou daquelas pessoas que começam a se arrumar meia hora antes do compromisso. Preparo e separo tudo no quarto e vou para The Shower World Tour. Hoje me preparava para ir para a universidade e recebi a ligação de minha mãe.
            Minha mãe é aquela pessoa que fica assistindo todas as séries que passam na televisão de madrugada, levanta as 6 da matina para preparar os caçulas para a escola e sai para faxinar casas, Tenho muito orgulho dessa minha pequena, então deixo que ela faça todo o questionário digno da CIA. Da inspeção da alimentação passamos para a parte em que ela agradece eu ter terminado meu último namoro. 
                Depois alguns minutos ouvindo todo seu aguardado sermão das montanhas, algo como: "Eu te avisei! Olha onde você amarrou seu burro, Eduardo Augusto!" Ela é a única pessoa no mundo que me chama de Eduardo Augusto! <3
               Correndo para não mais me atrasar, avisei que a deixaria no viva voz enquanto eu barbeava a minha pseudo-barba. Bem, para você entender imagina um Pokémon esperando pela próxima evolução.  Então, minha barba está assim! Enquanto minha mãe discorria sobre uma de suas amigas que a havia irritado, eu me olhei espelho, tentando não aspirar a espuma ao redor do meu rosto. E pela primeira vez eu senti que minha vida havia chegado  a um novo momento.
               Eu olhava meu reflexo e  não via só um garoto com medo do mundo, aquela pequena e falha barba me deu toda a força para sentir que o menino tornara-se homem. É um momento muito único na minha vida, estou prestes a terminar minha  graduação! Serei licenciado aos 22 anos! E ainda há todo um mundo a minha frente.
            Batia o barbeador na pia para dispersar os pelos, minha mãe continuava falando sobre aquelas pessoas que pareciam-me ser de uma vida tão antiga! Senti que esse será só um dos primeiros dias em que ouvirei minha mãe no telefone enquanto limpo meu rosto. Era uma segurança que  as coisas estavam indo  no  caminho certo.
         Minha  mãe  se  despediu e avisou que eu não deveria me atrasar  pra aula, as mesmas cobranças do tempo em que estudava na escola em que ela trabalhou. Dissemos os tradicionais não sei quantos eu te amo, mas meu peito se enchia de uma saudade boa. Olhei para o espelho, e marcando o reflexo, havia uma linha vermelha cortando o queixo. Sempre vai haver esse menino assustado em quem me tornarei. Como dizia minha pequena mãe, algumas coisas nunca vão poder mudar!

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