Velha Estrada

          Caminhei até a mesa, coloquei a bandeja no canto e sentei-me. Ela estava ali, mas não queria olha-lá. Meus olhos percorriam as paredes atrás das velhas rachaduras que permitissem a mim sentir um pouco do ar glorioso da juventude. Mas sentia o peso do mundo em minhas costas, tinha perdido  minha última aposta. Ainda assim ela olhava para mim.
         Dentro de mim a música tocava, as luzes acendiam e apagavam. Até então, não havia me preocupado com o quanto me quebrei na estrada de tijolos desgastados. Meus pés não sentiam qual caminho poderiam correr, minhas mãos tateavam avidamente por uma chave. Mas as coisas se perdiam em mim, da mesma maneira que me perdia no turbilhão de sonhos. Ali estava ela, me encarando.
         Havia me focado no meu destino, esquecendo da própria jornada. Eram incontáveis aqueles morros de insegurança, por momentos não sabia se os venceria. Me sentia vão, fraco. Olhei para baixo, ela estava amarrando meus cadarços.
           Eu, aquele filho do seu tempo, perdido na ilha de seus sonhos e downloads, senti o seu afago em meu peito. Era quente como a brisa  que te diz que o sol reinará sobre o azul do céu. Era certo como a manhã que vence a mais longa noite. Era tudo que eu tinha, porque não havia nada mais a perder. O fim eu já sabia de antemão, de cor e salteado. Mas ela ali estava, caminho de ida e volta destas pernas cansadas e alma velha.
          Esperança.  

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