Noites de Dezembro


                    Ele fechou os olhos e sentiu o frio, a noite e vida que corria do lado de fora da casa.
              Ali, dentro e fora do seu corpo, estava uma completa bagunça. Roupas e pensamentos jogados ao alento. Misturavam-se em uma montanha em que tinha medo de tocar. De descobrir o que havia por baixo de toda a poeira.
                    O peito ardia, e as chamas o consumiam. Ele queria correr, mas era um homem sem casa. Não tinha para onde ir, para quem se jogar. A solidão era uma companhia curiosa. O fazia pensar em todos que estavam distantes, mas o foco voltava a ser ele. Seus erros. Seus planos frustrados. Os sonhos que criava durante o dia, e sabia que não chegaria a minima margem da realidade.

                Recordava-se de alguém dizer que o tempo que se passa sozinho, era bom para se conhecer. Mas como conhecer alguém que mudava numa espiral constante? O espelho lhe pregava truques a cada manhã.
              As horas corriam e os pensamentos do menino voltavam a cenas que queria reviver. O sorriso bobo era sua sina. Era uma dor que valia apena. Quem nunca sorriu lembrando de alguém que estava longe, e não mais poderia voltar? Não há amor sem dor, ele pensava.
                  As frestas do futuro o incitavam e o deixavam nervoso. Eram tantos caminhos que queria seguir, tantas vidas que queria ser. Quantos mundos mais ele lutava para poder abraçar. O fogo ainda queimava, mas ele sabia que conseguiria dançar sobre as chamas. Não seria nada mal se todos soubessem seu nome. 
               A música tocava ao fundo, tudo corria de acordo com os planos de um destino que não conhecia. Por fim, cansado de si e de suas eternas paranoias de cinco minutos, sentou e olhou o céu. Viu as estrelas e o céu do fim de dezembro, e sorriu. Sentiu a liberdade correr pela abóboda celeste. Era parte dele.
                A brisa lhe carregou para longe das inseguranças, e ele então pode perceber que quanto mais ele tinha medo do fim, mais ele o transformava. As chamas que consumiam seu sono, eram fruto do terror ao medo de não conseguir viver todas as histórias de amor e glória que construíra. Receava que seus pecados, como a sociedade os chamaria, o abnegassem de novas chances, novos frutos.

             Mas estava tudo bem. Ele sempre se surpreendia. A vida era mesmo uma valsa que o conduzia, e a orquestra tocava notas que vibravam em sua beleza e juventude. A dança era mais rápida, e a ele se entregou sem era nem beira,
                    O fogo não era mais tão assustador.

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