Encontro casual
Depois de tantos acasos, o beijo aconteceu. Os corpos se atraiam como opostos. Mãos firmes percorriam a parte de trás da cabeça e as costas. A barba de um roçava o pescoço do outro. Os sussurros ao pé do ouvido arrepiavam.
Embora alguma música tocasse ao fundo, a respiração dos consortes a abafava e tornava-se o único som ao qual entregavam-se.
A luz da rua banhava o quarto escuro e vazio, contendo apenas um colchão, parte desmontada de uma mobília e inúmeras roupas tacadas ao alento. Dedos entrelaçavam, abdomens atritavam e virilhas encaixavam.
Um era mais velho, trazia em si o fulgor dos vinte e poucos anos. Era branco como um filho do luar, a pele lisa e os cabelos eram curtos. Mesmo com pouca luz, podia-se ver que seus músculos eram firmes e esbeltos. O outro mais magro, com pele marcada de sol e cabelos espessos de um ouro velho, aparentava ter vivido menos janeiros do que realmente suportara.
Bocas, peitos, abraços, arranhados e risadas. Na dança quente de uma madrugada fria, os consortes subiam e desciam um sobre o corpo do outro. As estrelas e a rua eram as únicas ouvintes daqueles gemidos de vozes grossas.
Mesmo que o Acaso os tivesse apresentado, os rapazes olhavam-se como se conhecessem e desejassem-se a muito tempo.
Os membros eretos pressionavam-se mutualmente, e acabavam por fazê-lo em várias partes do corpo nu jogado no colchão sem lençol.
Não havia pudor. Nem ao menos miséria. Apenas luxúria, com muito de excitante e pitadas de vaidade.
Despiram dos erros e pecados. Deixaram que a vida gozasse e eles gozassem sobre ela. Não havia mais músicas, e demorou para que se atirarem exaustos e suados na cama improvisada. Tinha um que de maroto na forma com que se olhavam. O jogo perdurava naquele olhar. O sono falou mais alto, e eles se encolheram em um singelo abraço e adormeceram.
Lá fora a lua iluminava a rua, e o corpo inerte dos jovens também. O Acaso vinha mais uma vez para conduzi-los a caminhos diferentes.
A rua e o luar.
Você, eu e todos os encontros casuais.
A cadeira e o olhar.
A cadeira e o olhar.
Aquele olhar...
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