Pensamentos de um dia de chuva

                        A chuva continuava a cair, o cômodo estava repleto de gritos e vida, e o menino ainda sentia um vazio enorme. Como era engraçado se sentir abandonado por si mesmo no meio da multidão. Eram tantos paradigmas para lidar, tantos modelos sociais que tinha que se impor. Uma vida curta que acreditava ter jogado fora.
                       Sua mente criava um espelho frio, onde o reflexo era uma clara negação da sua persona. Doía nele não seguir os padrões. Sofria por não ser um fruto da sociedade, por pensar demais. Ora, fora este seu pecado capital! Pensar demais. A vida poderia ter sido tanto mais, se apenas sentisse.
                       O corpo era só uma casca, mas demasiada pesada. Era doloroso ouvir olhares de que não era bom o bastante. Frustava-o ver passados que nunca existiram desfazerem-se em sua frente. Maldita sede de beleza! Detestável busca incansável por aceitação.
                      O mundo girava mais rápido, e impassível ele chorou todas aquelas lágrimas secas. Todas as horas que passou acordado lembrando quão doce era o veneno da perfeição. Queimava suas entranhas, não havia quem podia ajuda-lo. Corroía-o a dúvida se haveria amor além de beleza e juventude.
                       O menino se arrastava atrás de um pedaço de si que nunca despertará. Os janeiros foram tão poucos, mas ele queria ter feito tão mais. Usado a vida, para que ela o usasse. Odiava a si, por ser quem era. Estava muito ocupado tentando ser dele próprio, para poder verdadeiramente pertencer a outro.
                       E quer saber, caro amigx, o que ele sempre vedou a vida toda? O príncipe encantado que tanto havia aguardado, estava com ele o tempo todo. Só ele não viu. Que toda dor, ele mesmo criou. A criação vencia o criador. A paixão ainda estava lá, e seria bom se ele recordasse disso.
                       Embora houvesse planejado inúmeros futuros, viveu muito pouco do que arquitetou. Ainda que se sentisse preso no próprio quarto escuro, iluminara caminhos que fizeram pedras do seu percurso finalmente ficarem para trás.
                       Porém, em um amanhecer, o menino se tornou homem. Olhou a própria história, e se orgulhou de cada cicatriz que trazia.
                      Afinal ele entendera que o que os outros pensavam dele, não era da sua conta. E ainda que todas as vozes de sua cabeça gritassem o contrário, ele era perfeitamente lindo. Para ele próprio. E era o que mais importava. A chuva não parecia mais tão triste.

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