Cores de um começo

                         O começo sempre é intimidador. Nunca gostei dessa etapa, afinal ela conta mais do que deixa transparecer. O inicio narra o que passamos, o que enfrentamos e onde almejamos chegar. Porém na sua beleza e sutileza, não percebemos isso. Minha mente tece tantas tramas e caminhos que aqui me trouxeram, que perco-me nas ruelas que crio e sufoco com o passado que se faz tangível. As noites são muito curtas para tantos pensamentos.

                        Já posso dizer, carx amigx, quando não mais em mim coube às paredes entreguei. Sabe quando sua cabeça se encontra em um estado de cacofonia? Letras de músicas, trechos de livros e gritos de uma alma que não aprendeu a falar, misturam-se e acabam por definir um fim onde torno-me tinta e rabisco. Muitas vezes as pessoas sentem a necessidade de serem lidas, não ouvidas. Há coisas que a voz não consegue dizer, mas olhares conseguem descrever. Há muito deixei de ser um livro aberto. Acho que passei a ser na realidade, um folhetim que o vento carrega. Sou aquela folha que voa de mão em mão em busca de alguém para declamá-la.

                             A vida é algo muito curioso. Como diria o poeta, primeiro nos aplica a prova para depois nos ensinar a lição. A cada esquina, ela muda e nos mostra o que nos tornamos ao olhar dos outros. Outros que nos importam, e também daqueles que não nos vale uma vírgula. O bom da vida, é deixar que ela seja uma parede. E que no seu estopim, jogar-se de cara e cobri-la com todo o seu eu. Uma explosão de cores, tons e formas. Palavras sem nexo, afinal que sentimento segue lógica alguma? O clamor de um coração partido é uma chuva de frases ao vento. Nem sempre chegam ao seu destino.

                         Eu não quero ser sozinho para sempre. Quero mais cores, mais pincéis, mais paredes, mais palavras que berram a cor da minha dor. Mas a noite está longa e abafada. A música retumba em mim, e encontra os escombros de um passado solitário, Embora eu tenha medo, eu posso ser sozinho essa noite. Há tantas paredes brancas a colorir. Aqui encontrando o motivo do meu começo. Fazer daqui uma tela minha e tua, pincelada por quem somos com a tinta do que um dia fomos. Ser a minha casa só por um dia... Seja bem vindo!